Sobre PublicaçãoPublicado em 06/07/2022
Cabe ao leitor devolver à carta/letra em questão, para além daqueles que um dia foram seus endereçados, aquilo mesmo que ele nela encontrará como palavra final: sua destinação. Qual seja, a mensagem de Poe decifrada e dele, leitor, retornando para que, ao lê-la, ele diga a si mesmo não ser ela mais fingida do que a verdade quando habita a ficção. (idem, p. 10)Lacan aponta no conto de Poe "(...) a divisão onde se verifica o sujeito pelo fato de um objeto o atravessar sem que eles em nada se penetrem, divisão que se encontra no princípio do que se destaca no fim desta coletânea sob o nome de objeto a (a ser lido pequeno a). ” (idem, p. 10) Para Lacan é o objeto que responde à questão sobre o estilo que ele traz no início: A esse lugar que, para Buffon, era marcado pelo homem, chamamos de queda desse objeto, reveladora por isolá-lo, ao mesmo tempo, como causa do desejo em que o sujeito se eclipsa e como suporte do sujeito entre verdade e saber. Queremos, com o percurso de que estes textos são o marco e com o estilo que seu endereçamento impõe, levar o leitor a uma consequência em que ele precise colocar algo de si. (idem, p. 11) Outra coletânea de artigos de Lacan publicada em 2001, postumamente, foi Outros escritos, por iniciativa de J. A. Miller, também pela editora Seuil. No Prólogo Miller resgata um dizer de Lacan: "Quando a psicanálise houver entregado as armas diante dos impasses crescentes de nossa civilização (mal-estar que Freud pressentia nela) é que elas serão retomadas, por quem? Pelas indicações de meus Escritos. ” (LACAN apud MILLER, 2003[2001], p. 12) Mesmo dando à publicação um lugar de destaque, Lacan afirma ser o escrito puro dejeto; chama a publicação de poubellication, devido a uma certa homofonia (em francês) entre as palavras lixeira (poubelle) e publicação (publication). Em português não há essa homofonia, traduziu-se publicação por "publixação” (Seminário 16). Pensar a publicação como publixação, como "lixeira”, à maneira de Lacan, não significa dizer que ela não serve para nada; muito pelo contrário, remete-nos ao lugar do analista, semblante de objeto a. Rosane Morais 2 de março de 2022 Referências: PORGE, E. Ler, escrever, publicar: o estilo de Lacan. Tradução livre LACAN, J. Abertura desta coletânea. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, p. 9-11. _______. J. Ato de fundação. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p.235-247 _______, J. Prólogo. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p.11-13 _______. De um Outro ao outro. In: O seminário: livro 16. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008 , p. 11 |
Av. Champagnat, 501, Ed. Mariner Center, sala 308, Praia da Costa, Vila Velha/ES. CEP 29.100.011